quinta-feira, 6 de outubro de 2011

uma história

Transcrevo esta de um exemplar da revista 

Programa Semeando
 Semeando Diálogos 
[Edição para o professor]
III e IV Ciclos do Ensino Fundamental
Educação de Jovens e Adultos
Sustentabilidade e Meio Ambiente - 2009

O contador de histórias
(conto de tradição oral)


     Conta-se que, certa vez, chegou a uma pequena cidade um viajante que trazia consigo uma valise contendo alguns pertences e uns poucos instrumentos de trabalho, que lhe garantiriam o sustento do dia-a-dia.
     Além de artesão, ele era também um grande contador de histórias. Sendo assim, instalou-se sem dificuldades naquela comunidade.
     Durante o dia, trabalhava o barro e com ele produzia objetos magníficos que lhe possibilitavam a sobrevivência. Ao cair da noite, sentava-se sob a árvore secular da praça e contava histórias a todos que tivessem ouvidos disponíveis e almas sedentas de aprender com seus personagens.
     À medida que o tempo passava, a audiência aumentava, e aqueles que antes apenas escutavam agora contavam também. Todos começaram a ficar atentos aos próprios sonhos e às coisas que lhes aconteciam no dia-a-dia, na certeza de que assim teriam também expereiências a trocar, em forma de grandes aventuras.
     O tempo passou mais ainda e, pouco a pouco, assim como ele, as pessoas também foram mudando. Até que chegou o momento em que ninguém mais se interessava pelas histórias contadas sob a generosa árvore da praça.
     O jovem homem de outrora era agora um ancião de cabelos brancos e costas arqueadas. Mas sua rotina permanecia a mesma: durante o dia, transformava o barro; ao cair da noite, contava histórias. Só que agora contava para si mesmo, pois ninguém se aproximava.Todos tinham muito que fazer em seus pequenos mundos particulares. Tempo não se trocava mais por experiências e encantamento; trocava-se por dinheiro. Assim sendo, ouvir um velho contador de histórias, que falava de aventuras, de ensinamentos milenares, de heróis que com inteligência venciam dragões... ah não! Seria perda de tempo. Além disso, é verdade que as novas lojas da cidade com suas vitrines tentadoras faziam sonhar mais que as histórias do velho.
     Chegou então um inverno rigoroso. Numa boca de noite que se anunciava gelada, o velho, na mesma hora de sempre, colocou-se a postos e começou a se contar histórias. Ria sozinho e se surpreendia sozinho, com tudo o que contava para si mesmo.
     As pessoas corriam de um lado para outro sem lhe dar atenção. Foi quando algumas crianças, incomodadas com a situação do velho, aproximaram-se dele e disseram:
     - "Mas, vovô, com tanto frio por que não volta para casa? Não vê que ninguém mais quer escutar suas histórias? Por que continua contando?"
     - "Antes", respondeu o velho, "quando era jovem, eu contava histórias para mudar o mundo: queria torná-lo mais belo. Agora, solitário, eu me conto histórias para que o mundo não me mude."

Fonte: Caram, Cecília Andrés e Matos, Gislayne Avelar. Caderno de Texto. Projeto Convivendo com Arte. BH/MG. 

2 comentários:

o refúgio disse...

Ai, Vais, que lindo! E esse final me deixou arrepiada, juro! Às vezes me sinto como esse ancião.

Adorei os espelhos, a margarida... como aconteceu hoje, também me enxergo aqui :D

Beijão!

Vais disse...

Ei, Sandrinha,
também tive a mesma reação que você, o final arrebenta.

Legal você ter gostado dos espelhos multiplicados e fico feliz de você se enxergar aqui

beijo grande, querida Dona Moça

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